Fertilidade como parâmetro

Carlos Augusto Sacchi aborda tema em artigo

  • FLÁVIA ZAGO
  • 08/04/2020
  • 11h33

Carlos Augusto Sacchi, diretor executivo da Escola Nacional de Árbitros e presidente do Conselho Deliberativo Técnico aborda em artigo tema importante para a evolução da raça. No texto, ele anuncia palestra (data a definir), com o especialista em reprodução equina, Gustavo Mendes Gomes (Bigu)  



A Seleção Reprodutiva no Mangalarga Marchador

 

A Raça, como todos sabem, é um patrimônio nacional reconhecido pela Lei Nº 12.975 de 19.5.2014.  Isso por si só nos torna ainda mais responsáveis pela seleção correta dos melhores indivíduos.

Diante disso, já passou da hora de utilizarmos a fertilidade como parâmetro de seleção dos reprodutores. As fêmeas também são importantes, não há dúvidas, entretanto, os machos são potencialmente relevantes visto que distribuem maiores quantidades de genes, por produzirem um número muito superior de descendentes.

A proposta é de que haja um maior rigor quanto às condições reprodutivas destes futuros reprodutores ao completarem idade para registro definitivo.

É sabido entre os Médicos Veterinários que a qualidade do sêmen dos garanhões MM é, na média, inferior ao de outras raças equinas. E por que isso aconteceu? É notório que na raça não houve rigor nessa área. No tempo que milito no MM, só vi ações individuais de criadores mais conscientes eliminando do plantel machos subférteis ou com patologias do aparelho reprodutivo. Por outro lado, todos nós sabemos de casos de cavalos criptorquídicos, por exemplo, que geraram muitos filhos. Utilizar animais com qualquer problema reprodutivo significa colaborar para a perpetuação de uma condição genética indesejável e que traz a longo prazo prejuízos irreversíveis ao MM.

O Padrão da Raça menciona como pontos de desclassificação do aparelho genital dos machos: Anorquidia (ausência congênita dos testículos), Monorquidia (roncolho), Criptorquidia (1 ou 2 testículos na cavidade abdominal), Assimetria testicular acentuada.

Baseados nisso, os Técnicos de Registro só podem deixar de registrar um cavalo inteiro diante de um desses casos. Ocorre que muitos animais não se enquadram em nenhuma dessas condições mas assim mesmo, a qualidade do sêmen é extremamente baixa. Além disso, o texto não faz menção ao tamanho mínimo dos testículos. A bem da verdade, dois testículos iguais mas com tamanho incompatível com o porte e idade do animal, são simétricos e assim não se pode negar o registro definitivo!

Por essas razões, o CDT estará empenhado em discutir formas de minimizar o problema, porém, sem que isso onere os criadores que já tem seus custos para administrar. Na próxima reunião do Conselho, teremos uma palestra do Médico Veterinário Gustavo Gomes, o Bigú. Faremos esse evento aberto ao público no auditório do IMA, ao lado da ABCCMM. Na ocasião realizaremos a filmagem da palestra para posteriormente ser disponibilizada pelo Youtube. Assim pretendemos atingir o maior número de pessoas possível para começarmos a criar uma maior conscientização sobre os aspectos reprodutivos.

Não podemos mais selecionar nossos animais baseados somente em Marcha, Morfologia e temperamento. Já é tempo de sermos responsáveis e incluirmos a fertilidade como fator de seleção de uma raça que, como citado, não é mais nossa, mas um patrimônio nacional.

Carlos Augusto Sacchi – 07/04/2020