Perigo para os equinos

Doença age no sistema nervoso central dos mamíferos

  • PAULA MAGALHÃES
  • 15/09/2021
  • 17h05

 

Grave e temida por todos, a raiva é uma doença provocada pelo vírus do gênero Lyssavirus. Capaz de atingir qualquer mamífero sobre a terra, seus danos ao sistema nervoso central são irreversíveis.

Os principais transmissores são os morcegos hematófagos que se alimentam do sangue de outros animais. E é no momento da mordida, através da saliva, que o morcego doente transmite o vírus para outros mamíferos, dentre eles os equinos. Após o contágio, o prazo de incubação é curto, os primeiros sinais aparecem em média entre duas e seis semanas. Neste período, ele se replica nas terminações nervosas até a medula espinhal e quando os sintomas se tornam perceptíveis, é porque já atingiu o sistema nervoso central e então age, principalmente, sobre o cérebro e após um período de cinco a sete dias o animal vem a óbito.

Alguns dos sintomas da raiva são, salivação excessiva (com presença de espuma), alterações de comportamento e apetite, dificuldade respiratória, mastigação alterada, tremedeira, paralisia corporal, dentre outros. Para estas situações, vale o alerta, até que seja feito o diagnóstico correto do problema, por um médico veterinário, é importante a adoção de medidas de segurança, tanto para as pessoas envolvidas no manejo, como para o restante da tropa. A identificação, em geral, é realizada após a morte do paciente, pela análise do seu material encefálico.

O Biólogo e Técnico Agropecuário do IMA, Jomar Zatti, membro do grupo de Controle da População dos Morcegos Hematófagos - espécie Desmodus rotundus (PNCRH), fala sobre este que é um dos maiores transmissores da doença. Segundo o especialista, o Brasil possui 186 espécies de morcegos catalogadas. Desse total, apenas três são hematófagos, “O maior transmissor da raiva para os herbívoros, inclusive os equinos é o Desmodus rotundus, popularmente chamado de morcego vampiro, que a transmite através da mordida. Os locais preferidos são: tábua do pescoço, lombo, garupa e machinho - próximo a coroa do casco. Após a mordedura eles sempre deixam uma mancha de sangue na ferida.”, informa.

E como os seres humanos também estão susceptíveis a esta enfermidade, os tratadores e demais pessoas que tiverem contato o paciente ou suas secreções, deverão procurar atendimento médico imediato para adoção das medidas de saúde necessárias para este tipo de risco sanitário. A exemplo de outros males que oferecem risco sanitário aos rebanhos e à população, a existência de qualquer caso suspeito precisa ser imediatamente notificada ao órgão responsável. Em Minas Gerais, o comunicado é feito para o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Pelo site da instituição (clique aqui) é possível consultar o posto de atendimento referente a cada cidade.

Para controlar as agressões aos animais pelo morcego hematófago, o produtor deve passar a pasta vampiricida ao redor da ferida, sempre a tarde, preferencialmente depois das 17h, ele também deve informar ao IMA os possíveis abrigos de morcegos na propriedade. Após a informação da morada, os técnicos da equipe de controle da população dos morcegos hematófagos vão agendar uma vistoria e realizar a captura da colônia. Jomar lista os lugares em que estes seres costumam ser encontrados “Cavernas, furnas, casas abandonadas, cisternas abandonas, bueiros sob rodovias ou ferrovias, e túneis de garimpos desativados”, informa.

O médico veterinário e Fiscal Agropecuário do IMA, Gustavo Maia Fonseca, explica como são os procedimentos do órgão, “Quando recebemos alguma notificação, o deslocamento à propriedade deve acontecer dentro de 24h. É feita uma vistoria geral no rebanho, exame clínico dos animais com sinais neurológicos, coleta de material para diagnóstico caso haja animais mortos com essa suspeita, orientação aos funcionários para que não manipulem animais doentes e caso tenham feito que procurem um posto médico para avaliação do profissional. Em seguida é feita a notificação para a secretaria municipal de saúde de caso suspeito de raiva”, informa.

Gustavo também falou sobre os sinais deixados na presa “Geralmente os equídeos são mordidos na tábua do pescoço próximo à crina. Os morcegos se prendem na cabeleira então, com o sangue fluindo e o movimento que fazem, acontece a famosa "emboleira" na crina. Isso, junto com o vestígio de sangue no couro é o principal indício de ataque de morcegos hematófagos, em quase 100% das vezes pelo Desmodus rotundus.”, pontua.

Prevenção

A principal medida de prevenção, de acordo com os especialistas está na vacinação dos animais. No calendário vacinal definido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (MAPA) a vacina antirrábica deve ser ministrada nos rebanhos anualmente. Gustavo orienta “Vacinar potros entre 3 e 4 meses e dar mais uma dose de reforço após 30 dias. Caso esteja em área onde haja foco de raiva, recomenda-se imunizar os animais mais jovens ainda. Com menos de 30 dias, dando o reforço um mês após. Em situações com muitos animais positivos e alto índice de mordeduras pode-se vacinar a cada 6 meses, a critério do veterinário responsável.”, esclarece.

Se houver sinais de agressão na tropa, Gustavo reforça “Caso a vacina não estiver em dia, o produtor deve tratar o entorno das feridas com pasta vampiricida e realizar o mais breve possível a vacinação antirrábica da tropa. Mordeduras frequentes devem ser informadas ao IMA, assim como o possível local de abrigo dos morcegos. Também é importante observar os animais para qualquer sinal de alteração neurológica. Se aparecerem esses sinais, comunicar imediatamente o IMA e não manipular os animais doentes.”, orienta.

Vale destacar que os morcegos são importantes agentes para o equilíbrio da flora e da fauna e não devem ser eliminados à revelia. Reconhecidos como reflorestadores naturais do planeta, além de serem predadores inúmeras pragas agrícolas, eles se alimentam principalmente de frutas, por isso, são excelentes polinizadores e semeadores. O combate deve ser feito com auxílio especializado, com base em estudos e critérios adequados.